Clichê dizer que é partindo dos erros que tiramos as melhores lições. No entanto, por mais démodé que pareça, todo clichê tem uma percepção única daquilo que acontece. Alguns diriam que se refere a um pouco de verdade. Aprende-se muito com um pouco de qualquer coisa. Basta estar atento. Pois quando passamos pela vida desapercebidos, até aquilo que machuca vem assombrar de novo. Amadurecer é não estar distraído para observar e absorver o que de bom se tem. Eu, por exemplo, não tenho medo da morte. Tenho medo mesmo é da vida mal vivida. Aquela que se leva de forma miserável. Meço riscos, mas às vezes só para conhecer medidas e não para preservação. Acredito que o medo limita. E pessoas destemidas são potencialmente inatingíveis. Aproveitar o pequeno, o básico, o simples. Porque é o que se tem, e isso não necessariamente mede o que realmente é bom. Ninguém disse que seria fácil. Mas também ninguém disse que valeria tanto a pena. Então, não me entrego nem esmoreço. Muito pelo contrário. Deixo que entre, que me afague, que ajeite um lugar ao meu lado, que me faça carícias, que me envolva, que comande. Logo aconselho: não há como ir contra as certezas da vida. Fui do tipo que negava, maltratava, menosprezava e até desafiava. Tirava pra dançar com a intenção de humilhar mesmo. De mostrar quem é que manda. Sem temor dos reflexos disso. Sempre ousada. Medo nunca tive. Até que ela veio e se impôs, soberana. Depois de um bom tempo, que naturalmente se leva pra assimilar, entendi o recado. Comecei a aceitar a minha condição. E com ela resolvi me familiarizar. Compreendi que não é pra ser bom mesmo, nem justo, nem pequeno. É pra fazer um belo estrago, pra incomodar muito, pra tirar a paz, pra tirar o ar. Tem que ser aceita de forma sincera, mesmo que demorada. Porque a calmaria só vem depois do entendimento. E daí se faz companheira pra todas as horas. Aprende-se a ter ela sempre por perto. Quase como um romance, pois penso nela nas horas mais inusitadas. Nunca haverá amor, nem sequer paixão. Mas tendo respeito e certeza, o resto pouco importa. E “esse é só o começo do final da nossa vida”.
Ao som de Los Hermanos - De onde vem a calma